segunda-feira, outubro 19

O último nível.

Na última e décima primeira manhã, acordámos numa cama para variar. Tivemos direito a pequeno - almoço, primeiro tomei eu (enquanto o Coruja apertava incessantemente as cintas da bagagem), só depois tomou o Coruja enquanto eu já fumava um cigarro, ansioso por partir para as últimas duas etapas do percurso.
A primeira etapa desta recta final teve início no concelho de Almeida em direcção ao Castelo Rodrigo. Já na bonita vila no interior do castelo de Almeida (rodeada por uma magnífica muralha em forma de estrela), víamos placas a indicar a direcção para Barca D'alva, e foi junto ao posto da GNR que iniciámos o roadbook.



De forma a evitar grandes atrasos não tirámos muitas fotos; posso dizer que a partir deste ponto já tínhamos completado a etapa em Castelo Rodrigo pelas 13H, que foi onde almoçámos num restaurante habitualmente usado por estudantes do secundário. Assim que chegámos, subi eu primeiro o passeio, depois o segundo passeio, com o intuito de estacionar as motos naqueles considerados estacionamentos privilegiados (provavelmente seria uma esplanada do restaurante, mas não vimos mesas, e até tínhamos visibilidade directa do interior do restaurante para as motos). Era, e foi um breve almoço, onde ainda pedimos sandes a dobrar para guardar na bagagem; de barriga cheia, levantamo-nos para o café e o cigarro já junto às motos, enquanto fazíamos uma sessão de esclarecimento aos miúdos mais curiosos, que se perguntavam, donde vínhamos, para onde iríamos...




Já no interior das muralhas/castelo, uma idosa sentada num banquinho a porta de sua casa, indica-nos o percurso até á fonte principal da vila, onde iniciaríamos a última etapa.

Colocamos os tacógrafos a zero, e não tardámos a deixar o asfalto e descer a encosta pela gravilha já no parque natural do Douro ineternacional.






Já a escassos kilómetros do final, e com vista directa para o rio Douro, apanhamos uma pequena molha, causada pelas nuvens que nos assombraram todo o dia; e com a agitação de sabermos que estávamos a chegar ao destino, tivemos mais um de muitos percalços na navegação por roadbook. Não durou muito, e em 15 minutos já estávamos a repor as habituais cervejolas e cigarros, numa conversa agradável acerca do próximo destino, e direcção a seguir.
Tínhamos realizado cerca de dois mil kilómetros em 12 dias, dos quais 70% andámos por terrenos de areia, gravilha, terra batida, relva, calhaus e até água.








Era notável, e falo por ambos quando digo que pensámos os dois, para com os nossos botões, que morreríamos lentamente se não arriscássemos o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, se não nos permitíssemos pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos. Provavelmente não teríamos partido na viagem, se soubéssemos que iria correr tudo bem, se o percurso fosse super fácil, porque na realidade deu-nos alto gozo solucionar, procurando alternativas em todas as situações críticas que foram surgindo. Inconscientemente, foi altamente satisfatório ver um sorriso aquando uma conversa com gente desconhecida, mudar os nossos trajectos habituais, e ao cultivarmos o gosto de ver o belo no diferente, já nos permitiu ter mais uma palavra a dizer sobre mais um qualquer assunto.
E então lá estávamos nós acomodar bagagem (uns itens do Coruja que eu trouxe para o Porto), cansados, felizes, ocupados da mente, ainda teríamos mais uma viagem extensa para fazer. O Coruja prosseguiu numa viagem a solo, com vários destinos, em convívio com amigos.
A partir daqui para o Porto, o asfalto foi o único terreno que utilizei, e para mal dos meus pecados demorei 4 horas em 3 auto-estradas diferentes, das quais 3H e 45 minutos, apanhei grande chuvada, já durante a noite e com pneus de taco; para quem não entendeu ainda a junção destes factos, devo dizer que esta mistura torna qualquer percurso extremamente perigoso. Enquanto conduzia, já molhado que nem um pinto, tive tempo de sobra para fazer, como habitualmente, uma profunda reflexão sobre aquilo que eu tenho, sobre aquilo que preciso, e sobre aquilo que não posso prescindir. Foi para mim o momento apropriado para agradecer a segura chegada a casa, depois de doze dias extasiantes numa viagem como já disse, em que prescindimos de quase todos os bens e serviços no turismo, e não nos custou nadinha! Como já se sabe, quem corre por gosto, não cansa.
Por último mas não menos importante, não poderia deixar a agradecer a todos os apoios facultados à realização deste passeio: nomeadamente a todas as pessoas com quem conversámos, e nos deram força para seguir em frente com diálogos construtivos; aos mecânicos das oficinas "Moto Rui" e "Motodinâmica" que antecipadamente nos prepararam as motos de forma exímia; ao mecânico Jorge Deitado que nos mudou 7 pneus furados; e essencialmente a Maria Manuel Tâmegão que gentilmente conduziu o nosso carro de apoio ao longo de todo o passeio, e guardou uma série de material que vimos ser supérfulo para a viagem.
Depois da prática e conhecimento que obtivemos, não é surpresa dizer que a próxima viagem já está a ser planeada. Será criado outro blog com informações da mesma.
Espero que tenham gostado deste relato. Tentei transmitir o mais detalhadamente possível diversos episódios que passámos, mas naturalmente, as emoções a sério foram vividas apenas pelos participantes deste nosso passeio de férias de Páscoa.
Fotos por Pedro Carrilho.

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