sábado, setembro 12

Cheirinho detalhado da viagem

Na sexta-feira 3 de Abril deslocamo-nos de Africa Twin e de Transalp do Porto para Setúbal. Chegámos já às 18H, às 21 chegaria ao Hotel a nossa carrinha da apoio, que trouxe do quase toda a carga necessária para 15 dias dum passeio que viria a ser um teste á nossa perspicácia e astúcia num rol de contratempos e imprevistos, que naturalmente se adivinhava que surgissem... Em cima da carrinha vinham uma CRF250X, uma Ajp200 e também uma XR250 sedentas de kilometros, terra e lama.
No dia seguinte pela manhã a travessia para tróia foi pelas 13H, então à saída do ferry o cenário já era este.


Seriam já 16H tínhamos todos o estômago estava a arranhar, serve-se já um snack! Até serve para levantar a moral depois das peripécias efectuadas na areia! Na teoria os novos pneus cardados deveriam tornar a condução na areia, mais acessível. Acontece que o factor experiência está pertinentemente associado à qualidade da condução, e nesse caso os condutores dos mamutes não fugiram a regra, quando por diversas vezes pediram ajuda para levantar as motos da areia. Devo dizer que concordei com o Pedro da Touratech (conhecedor dos areais e representante da Touratech) quando nos descreveu a Comporta como "o mais parecido com o inferno". No meio das primeiras quedas, óculos ofegados pela respiração, atolanços mais um par de quedas, umas sandes para repor energias, mais 3 quedas num espaço de 100m, já ia para cima de 10 tombos quando descobri "aquela posição" ideal , e a velocidade mínima para transportar 200 e tal quilos sobre a areia, já contava duas dúzias de kilometros sobre a areia. Seguíamos já na direcção oposta ao sol até me aperceber do furo na roda de trás da Transalp, obrigou-nos a sair da areia, e seguir por asfalto até ao parque de campismo de Alcácer do Sal, onde pernoitamos por duas noites. Então para ocupar-mos o nosso tempo, tivemos de desmontar a roda da TA, depois do jantar em Alcácer, sobremesas, voltámos ao campismo, tomámos mais uma sobremesa, e cama. Planeámos então levar a roda na manhã seguinte ao José Deitado de Azeitão.

Dia2 pelas 11H já estávamos todos acordados, faço uma chamada para para o José Deitado, e tenho resposta positiva, rapidamente se prontificou a deslocar-se à sua oficina, numa tarde de Domingo para ajudar no meu pedido de SOS. Num instante prendo a minha roda a moto do coruja, e faço o caminho inverso (+ 1H de viagem para trás, exactamente de onde tínhamos estado no dia anterior a montar os novos pneus dos mamutes).

Antes de o ferry atracar no porto de Setúbal, alguém me toca no ombro para eu despertar, e avisa, "cuidado, já vais com o pneu da frente furado!" Então para mal dos meus pecados, estou a resolver o meu problema, com a ajuda duma moto emprestada, e ainda tenho 15 kilometros para fazer com um pneu furado...

Nos primeiros momentos em que estive na companhia do José Deitado, confesso que estaria um pouco em baixo, ponderando a viabilidade do passeio continuar, em que vila é que eu iria ter o próximo problema relacionado com a moto, elas aguentariam??

Muda-se a minha roda, duas rodas incluindo o pneu da frente da AT, e na dúvida por descargo de consciência verifica-se o pneu de trás da AT, e como por bruxedo, estava furado também! Já contámos então 3 furos.

No meio de conversa sobre o futuro do Motocross, a cidade do Porto e Setúbal, e o meio rural, até esqueci o facto de estar de estar vestido apenas com uma t-shirt, (quando ainda tinha 1 hora de viagem para Alcácer já sobre aquele fresquinho de fim de tarde) e levantei o ânimo, comprei mais 2 câmaras de ar sobresselentes e despeço-me, agradecido pela ajuda e simpatia do mecânico. ! hora depois regresso ao campismo com uma roda em cima da AT, 2 câmaras novas e ainda uma garrafa de ginginha oferecida pelo José Deitado! Coitados dos outros membros da equipe, que passaram o dia a apanhar sol, e a recortar e colar roadbook's.

Resolvi o problema, e a caravana poderia então seguir a rota na manhã seguinte.

No 3º dia foi a 1ª vez que desmontámos a enorme tenda, e esse facto, entre outros ajudaram a caravana de motos a partir apenas pelas 12/13H, muito satisfeitos por estarmos a rolar, começo a sentir o intenso cheiro a gasolina a vir da TA, apercebo-me que a torneira de combustível ficou meio desapertada com as quedas que teve na comporta; esse incidente resolveu-se simplesmente com uma chave 18, menos simples foi encarar que tínhamos perdido um estojo completo de ferramentas, ficando apenas com o estojo de ferramentas essencial que vem de origem na Transalp, para o restante passeio.



Já seriam então 14H e apenas a 15 kilometros de Alcácer na bonita vila de Santa Catarina optámos por fazer a primeira incursão em terra que nos saiu literalmente "furada". Desta vez o azar veio na Ajp do Lula que furou o pneu traseiro. Não houve spray furo nem compressor que nos permitisse ir até ao mecânico. A caravana voltou a parar, o entusiasmo de seguir por off-road parecia desaparecer, tínhamos no entanto que arranjar uma solução rapidamente que nos permitisse pairar por outras terras, já que Stª Catarina era bonita, apenas de passagem.


Estávamos cansados, e ainda temos de voltar atrás por causa de outro furo?? Ninguém tem câmaras sobresselentes roda 18?? Nem sacas-pneus?? Era óbvio que ninguém estava preparado para mudar um pneu, logo para esses problemas a solução é sempre chamar o reboque pago pelo seguro, indicando não o furo do pneu, mas sim uma história que a moto tinha ido abaixo numa curva (problemas de electrónica) e para evitar a queda teve de se desviar, entrando por um trilho com arame farpado... já sabemos que os condutores de reboque não são burros, mas sem dúvida muito mal encarados (acho que foi por interromper o horário de almoço do Alentejano) não levou a moto do Lula para Évora (já que era nossa pretensão avançar), mas sim para Alcácer novamente! A falta de técnica do homem do reboque era notável, ao prender a moto com 4 cintas, e força excessiva, o que resultou num pneu danificado pela jante (que mais tarde viria a dar problemas novamente).
Ficámos na vila a petiscar, enquanto esperámos o regresso do Lula de Alcácer..

Alcácer está a tornar-se demasiado presente, quando o nosso percurso guiado por roadbook's começa apenas em Reguengos de Monsaraz.
De repente cada um decide tomar a sua direcção, para dar a sentir a sua moto um cheirinho daquele que é o seu ambiente predilecto, a terra batida, sob o compromisso de serem breves, pois o lula estaria aí a chegar.



Assim que o Lula chegou, tomámos uma grande estrada em off-road que nos levaria quase á entrada de Évora. Já contávamos com 4 furos de pneus, e ainda antes de chegar a Évora, esse pneu que o Lula reparou, descalça da jante, ficando assim uma grande bolha de fora da roda que era a câmara-de-ar. Outro incidente ainda no mesmo dia, que nos obrigou a remendar esse pneu, enrolando-lhe uma cinta inteira em 30% do pneu ali mesmo numa bomba da gasolina em Alcáçovas. Encontrámos também nesta vila gente muito simpática e prestável, que sem contarmos, nos oferecem aquilo que agora era essencial para prosseguirmos viagem; um pneu usado mas em bom estado para a moto do Lula. Juntaram-se 7 ou 8 pessoas a volta da moto, que nos faziam companhia já pela noite, enquanto uns mudavam o pneu, e eu tratava do jantar que decorreu ali mesmo na bomba de gasolina.
Já passava de meia-noite quando saímos de Alcáçovas, entrámos às 2H da manhã no parque de campismo de Évora, não havendo ninguém na recepção montámos as tendas silenciosamente. Á noite tenho tempo para fazer o meu café e guardar na termos, era agora altura de conversar e rezar para que no dia seguinte não houvessem tantos incidentes desagradáveis.
Já estaríamos a 50 kilometros do início do percurso, a esta hora da noite já estou eu a conversar com o caderno, quando eles já adormeceram a pensar na grande partida do dia seguinte.
No 4º dia acordámos no parque de campismo de Évora até com alto ânimo para fazer os 50 kilometros que nos separavam de Reguengos de Monsaraz, e até desmontámos a tenda bastante rápido; carregámos as "burras" mais rápido que no dia anterior, e não tendo cartão do parque (porque ninguém nos viu entrar) decidimos sair sorrateiramente numa filinha indiana (na realidade também só pernoitamos por 6 horas).
Seguimos por asfalto até á vila de Monsaraz, onde almoçámos, verificámos óleos das motos, correntes e certificámo-nos que estaríamos prontos para dispensar qualquer bem ou serviço existente nas cidades. O que quer que precisasse-mos teríamos que arranjar espaço na bagagem, e carregar connosco.
Iniciámos então a primeira etapa navegando com 4 roadbook’s, apenas o lula dispensava a navegação visto que não tinha odómetro. Parámos frente á igreja no interior do castelo/vila de Monsaraz, coloca-se os conta-kilometros a zero, e muita atenção para não nos perdermos! Ainda nos divertimos imenso na primeira etapa, mas rapidamente ficámos perdidos às voltas nas águas do Alqueva, e ai lembrámo-nos que segundo a revista, era esta etapa “um passeio em vias de extinção”. Nisto somos forçados a parar, e rapidamente encontrámos um cenário idílico em que tirámos uma série de fotos, tomámos umas sobremesas e discutimos a direcção a seguir.
Espontaneamente surgiram altos programas e ideias não muito rigorosos, e a caravana acabou por seguir por asfalto até á próxima etapa, Vila Viçosa, onde voltámos a reunir mais alguns mantimentos, e iniciámos a etapa já no sol de fim de tarde. Tínhamos pouco tempo para montar a tenda, logo fizemos apenas meia dúzia de kilometros, até que entrámos por entre vales e descobrimos um sítio porreiro em que nos permitiu fazer a primeira noite de campismo selvagem. Tememos pela nossa vida quando de uma forma irresponsável tentámos assar um chouriço no interior da tenda ( alto lá, na zona mais ampla daquelas tendas com 2 quartos , não sou maluco tá??), e fomos assolados pelo vento que corria nas aberturas de tenda. Aí é que foi o êxtase ao tentar apagar a chama, e a vê-la ganhar vida, lutando contra nós! Okay, o chouriço fica para outro dia, chegou a nossa hora de recolher.



A próxima história e mais fotos virão em breve.

Fotos por Pedro Carrilho.

2 comentários:

  1. Arre, isso é que foram azares em cima de azares!
    É certo que de certa forma os azares dão mais historias e ficam mais tempo na memória do que um bom estradão ou uma vista bonita (e um ou sete cigarros...), mas o que é de mais também enjoa :D

    Admiro a vossa persistência para lidar com todas essas dificuldades e manterem-se no plano original!
    Para a próxima, convidem =D

    Abraço:
    -Guerra

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  2. grande cena, grandes homes, grandes motas, grandes terrinhas, grandes problemas, granda passeio um dia juntarei me a vosses ;) um granda abraço sopé

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